Frei
Petrônio de Miranda, Frade Carmelita.
E-mail:
missaodomgabriel@bol.com.br
Meu
caro leitor do Jornal Tribuna Regional, o filósofo grego Platão (século IV
a.C.) afirmava que a política era uma das mais nobres atividades humanas e que
o "principal problema daqueles que não se interessam por políticas é que
serão governados por aqueles que se interessam". E quando não se dá a
devida importância à política, corremos o risco de sermos mal governados pelos
interessados que chegam ao poder. No seu diálogo, O Político, ele expõe uma
síntese da sua visão política, que, bem mais tarde, aparecerá detalhadamente
nos seus dois outros diálogos, considerados clássicos: A República (Politéia) e
As Leis (Nomos).
Em
conversa com um ex-Prefeito de Jacobina e que também exerce a profissão de
médico, perguntei-lhe sobre a “tradição” dos médicos prefeitos em nossa cidade.
Com bastante sinceridade e com a experiência também de médico, ele
confessou-me: “Frei, os médicos políticos de hoje são os coronéis de ontem”.
Após algumas reflexões sobre esta conversa, fui motivado a refletir, com você,
sobre esta polêmica afirmação. Leia, reflita e assuma o seu protagonismo de construtor
de uma comunidade mais ética, humana e solidária.
-
Coronéis de ontem: “Seu coroné, pelo amor de Deus, me dê uma ajuda, minha filha
tá doênte, a seca acabou com tudo, tô passando fome, não sei o que fazer, meu
coroné. Ficarei a dispor de vomissê para servir no que precisar, mas socorre a
minha família”.
-
Médicos políticos de hoje: “Seu doutor, só o senhor pode ajudar a minha
família. Eu tenho 15 filhos, a minha muié passou mal onte, meu filho mais veio
tem 5 filho e dois tão doentes. Há seu doutor, não é porque o sinhor é
candidato, mas no que precisar, tamo aí”.
Meu caro leitor, estas histórias
fictícias, mais do que verdadeiras nos dias de ontem e em nosso dia-a-dia, é
para relatar uma verdade que todos sabem, mas nem todos têm a coragem de
afirmar: “Coronéis Jacobinenes de ontem, Médicos Políticos de Hoje”, é uma
verdade igual a 2x2 =4. Vá até ao Centro
Cultural da nossa cidade, suba as escadarias em direção ao auditório e olhe a
história da nossa cidade através das fotos dos nossos prefeitos. Veja quantos
coronéis foram prefeitos nos dias de ontem e faça uma comparação em relação aos
médicos prefeitos de hoje. É incrível como a história vai nos relatar esta
verdade absoluta! Se ontem os pobres da seca, da fome e da dor tinham nos coronéis
a “sua proteção”, olhe para os dias de hoje e você ficará em dúvida se parou no
tempo ou se os políticos- coronéis ressuscitaram na vida de muitos médicos
jacobinenses.
Para
os pobres de ontem, quando o coronel fazia “um favor”, que, aliás, nada mais
era do que uma obrigação e um dever evangélico do ser humano estender a mão
para o pobre, para o órfão e para a viúva
(Tiago 1, 27), na sua concepção, toda a família ficava devendo este
eterno favor. E como era pago este favor? Muito simples, através do voto. Nos
dias de hoje, quando um médico, mesmo que seja pago, atende uma família na hora
da dor ou da morte, que, aliás, emocionalmente e psicologicamente é a hora mais
apropriada para o “médico coronel”, esta família e também a sua segunda geração
ficarão gratas através do voto por várias eleições. Conheço uma família que
votou em um determinado médico político por três eleições, simplesmente porque
o tal médico estava presente na hora da morte do pai daqueles filhos. E olha
que foi tudo pago! Por que será que o sistema de saúde da nossa cidade sempre
está nas mãos de políticos? Por que será que mesmo falido o Hospital Antônio
Teixeira Sobrinho (incluindo a Clínica de Hemodiálise) continua sendo disputado
por grupos políticos? Por amor a Jacobina? Por amor aos pobres doentes
renais?
Termino
o meu artigo com o pensamento de Platão: “o estado deve ser governado não pelos
mais ricos, os mais ambiciosos ou os mais astutos, mas pelos mais sábios”. Ele
ainda acrescenta que “o fundamental problema da política é que todos os homens
acreditam-se capacitados para exercê-la, o que lhe parece um grave equívoco,
pois ela resulta de uma arte muito especial”. Ou seja, não é porque eu tenho
bens, sou da família Y ou X que tenho capacidade para ser político.
Com
estas afirmações do mestre e filósofo grego, podemos ainda afirmar que muitos
gostam de pescar, mas a arte de viver e sobreviver da pesca são próprios de
quem aprendeu na sua humildade, na escola do dia-a-dia da pesca. Ou seja, como
eu posso fazer a política do bem comum se eu jamais estive envolvido em
questões sociais ao lado daqueles e daquelas que gritam por justiça social ou
clamam por vida e dignidade? O momento sem dúvida alguma, é de reflexão e de
separação do joio e do trigo (Mt 13, 30) enquanto é tempo.
Não
é mudando de gestor Y para X que se resolvem os nossos problemas, mas na
participação popular das ONGs, Igrejas, Movimentos Sociais, Sindicatos e
Associações Comunitárias. Na escolha de candidatos comprometidos com as causas
sociais que subam a serra não apenas em ano de eleições. Que abra o vidro do
carro não apenas para pedir votos, mas para ver e ouvir o grito dos pobres
sofrendo com as muriçocas, com a falta de água e com a violência que nos
assusta. Tudo isso não é um sonho, é uma conquista a partir do momento em que
abrirmos os olhos sem medo de ser feliz.
(Artigo
sobre a política da cidade de Jacobina-BA)
http://mais.uol.com.br/view/77gsd7cnudte/coroneis-jacobinenses-de-ontem-medicos-politicos-de-hoje-0402993968D0891327?types=T&
O coronelismo foi sempre marcado por impedir que se ampliasse os direitos políticos, ou seja, o direito de poder escolher, por meio do voto, os seus governantes; impedir os direitos civis; além de ter dado pouca importância aos direitos sociais. A Constituição na época de Getúlio Vargas impedia que o povo expressasse suas opiniões de forma livre ou se fosse contrária aos interesses do governo, além de proibir qualquer manifestação pública. Com a população iletrada, politicamente analfabeta e os descendentes dos escravos jogados numa total exclusão econômica, sem empregos, sem terra e analfabeta, restou-lhes a indigência e a formação de favelas nas periferias das grandes cidades. Desse quadro para o que acima é narrado não há nenhum "grande passo para a humanidade". Antônio Carlos Fernandes, advogado em Salvador / BA
ResponderExcluir