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Noite Em Paris - El Carmo
Autor: Elcarmo [membro] Data: 28/10/2005 Mensagem lida 119 vezes |
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Noite Em Paris
El Carmo
Fazia um friozinho e chuviscava. Ele parara em frente ao Eléphant Blanc para esperar passar a chuva. Eram, talvez, duas horas, ou menos. Outras pessoas ali se encontravam e esperavam silenciosas a chuva passar. Um homem baixo, de careca luzidia, meio desdentado e roupas modestas parou em sua frente e de costas e comentou sobre o tempo. O tempo é tema das pessoas que querem iniciar uma conversa e não tem nada para dizer. Mecanicamente respondera àquele homem convicto de que conversas passageiras não eram propicias para se fazer amigos e amigos era o que lhe interessava fazer, pois sabia das dificuldades em fazer amigos na França e mais ainda o quanto era difícil conserva- los. Como ser amigo de um clochard, de uma pessoa que não tinha morada e não se sabia onde procurá-lo nas dificuldades? Não. Não era um clochard. E se fosse, iria precisar de um clochard? Sim. Bateu um papo. Era difícil encontrar alguém para papear. Sua vida transcorria em monólogos. Monólogos que saiam em sons. Para que abrir a boca? Não havia ouvidos. O velho percebeu o estrangeiro. Talvez, também ele estrangeiro em sua terra. Não. Não era um árabe. Il n´etait pas un pied- noir. Non, il n´etait pas un mexicain, non plus. Il s´agit d´un brésilien. Du Brésil. Le carnaval de Rio. Disse ser do sul e talvez entendesse um pouco de português porque sabia algumas palavras do provençal, la langue d´oc. Orgulho nos olhos ridentes. Alguma semelhança entre o português e o provençal? Existe ainda falantes desta língua? Dela sei apenas que tal qual o francês e o piemontês o u se pronuncia abrindo-se a boca para dizer u e ao contrário dizer i, saindo um som semelhante ao ü alemão. Acabo de aprender que bouche se diz boca como em português, une boca, ou bouco, uno bouco; Que nuit se escreve nuet, noite, e se pronuncia nué; dia não é jour mas jorn e se pronuncia dzur, pois o j e g se pronuncia dz; Ch se diz ts; Paraxítonas las palabras finitas em un. a e,o, as, es, os. Saberá que Gabriel Mistral escrevendo em prouvençau tornou respeitada a língua occitana. E lerá um dia esta súplica dirigida ao rei René em 1474:
Tres soveyran et tres haut prince, A la vostra sacrada real majestat, humilment et devota si expausa, per la part del senhor de Cucuron et de sos homes del dich luoc, que a lur noticia es vengut que ung jort de la semana passada alcun appellat Nicolau de V..., mestre dostal del magnific monsenhor de Saut, ambe un notari del dich senhor de Saut appellat Gastinel, per comandament (coma dizian) del dich senhor de Saut, son vengus en terra de Cucuron en un luoc appellat Gotorras, que solia estre una bastida (...).
Uma rajada de vento e água. O velho recuou tocando-o. No sexo. Entendeu tudo. Não era isto que estava procurando. Tinha estado em alguns bares. Bebera. Não lhe olhavam as loiras nem as morenas. Em vão. Tímido para a abordagem. Sòzinho mais difícil a conquista. Não era um pédé. Não. Ele não disse isto. Queria apenas sucer sa bite. Não, alí na rua, descaradamente assim? Qu´il n´y avait personne. Tous sont rentré. L´Elephant Blanc fazia congé, nesta noite. Seus fregueses foram beber em outra freguesia o grog reconfortador. Ia voltar a seu quarto. Subiria os sete vãos de escada do 16 rue d´Assas. La concierge botaria os olhos para ver quem estava entrando. Nunca dormem as concierges. Poria um disco na vitrola. Aquela que lhe presenteara a amante, dedicada esposa do italiano. Lembraria o dia em que a conhecera ao comprar-lhe amendoim na avenida Saint Michel. Est-ce que vous jouez de la guitarre? Por acaso tocava, sim, violão. Claro, dar-lhe aulas de violão. Talvez não tocasse tão bem, não fosse capaz de tocar- lhe o concerto de Aranjuez. Saberia, planger as primeiras notas.
Sim, subiria ao seu quarto. Tomaria um copo de porto. Esquentar o frio. Deitar-se-ia ouvindo tranquilamente Mozart. O Divertimento em ré maior, K334 do poeta que em l779 na velha Salzburg, num rasgo de inspiração compôs para o deleite da posteridade. Era cedo. O leiteiro inda não passou. Dormiria um pouco e voltaria à rua. Buscar sua cota de leite na mercearia. Não era um ladrão. Fazia sua redistribuição da riqueza. Os francêses entregam o leite nas padarias e mercearias na madrugada. Como nas residências, deixavam os pacotes empilhados em frente à porta. Pegava sua parte todas noites. Era preciso comer. Em seu quarto lhe esperavam a baguete e a manteiga esta surrupiada no marché a cotê. Não tremer como lhe dizia seu amigo Luiz. Se tremer o francês vê, como quase viu no dia em roubaram chocate no mercado. Ser firme. E viverás. Ser Firme e viverás... El Carmo:
Fazia um friozinho e chuviscava. Ele parara em frente ao Eléphant Blanc para esperar passar a chuva. Eram, talvez, duas horas, ou menos. Outras pessoas ali se encontravam e esperavam silenciosas a chuva passar. Um homem baixo, de careca luzidia, meio desdentado e roupas modestas parou em sua frente e de costas e comentou sobre o tempo. O tempo é tema das pessoas que querem iniciar uma conversa e não tem nada para dizer. Mecanicamente respondera àquele homem convicto de que conversas passageiras não eram propicias para se fazer amigos e amigos era o que lhe interessava fazer, pois sabia das dificuldades em fazer amigos na França e mais ainda o quanto era difícil conserva- los. Como ser amigo de um clochard, de uma pessoa que não tinha morada e não se sabia onde procurá-lo nas dificuldades? Não. Não era um clochard. E se fosse, iria precisar de um clochard? Sim. Bateu um papo. Era difícil encontrar alguém para papear. Sua vida transcorria em monólogos. Monólogos que saiam em sons. Para que abrir a boca? Não havia ouvidos. O velho percebeu o estrangeiro. Talvez, também ele estrangeiro em sua terra. Não. Não era um árabe. Il n´etait pas un pied- noir. Non, il n´etait pas un mexicain, non plus. Il s´agit d´un brésilien. Du Brésil. Le carnaval de Rio. Disse ser do sul e talvez entendesse um pouco de português porque sabia algumas palavras do provençal, la langue d´oc. Orgulho nos olhos ridentes. Alguma semelhança entre o português e o provençal? Existe ainda falantes desta língua? Dela sei apenas que tal qual o francês e o piemontês o u se pronuncia abrindo-se a boca para dizer u e ao contrário dizer i, saindo um som semelhante ao ü alemão. Acabo de aprender que bouche se diz boca como em português, une boca, ou bouco, uno bouco; Que nuit se escreve nuet, noite, e se pronuncia nué; dia não é jour mas jorn e se pronuncia dzur, pois o j e g se pronuncia dz; Ch se diz ts; Paraxítonas las palabras finitas em un. a e,o, as, es, os. Saberá que Gabriel Mistral escrevendo em prouvençau tornou respeitada a língua occitana. E lerá um dia esta súplica dirigida ao rei René em 1474:
Tres soveyran et tres haut prince, A la vostra sacrada real majestat, humilment et devota si expausa, per la part del senhor de Cucuron et de sos homes del dich luoc, que a lur noticia es vengut que ung jort de la semana passada alcun appellat Nicolau de V..., mestre dostal del magnific monsenhor de Saut, ambe un notari del dich senhor de Saut appellat Gastinel, per comandament (coma dizian) del dich senhor de Saut, son vengus en terra de Cucuron en un luoc appellat Gotorras, que solia estre una bastida (...).
Uma rajada de vento e água. O velho recuou tocando-o. No sexo. Entendeu tudo. Não era isto que estava procurando. Tinha estado em alguns bares. Bebera. Não lhe olhavam as loiras nem as morenas. Em vão. Tímido para a abordagem. Sòzinho mais difícil a conquista. Não era um pédé. Não. Ele não disse isto. Queria apenas sucer sa bite. Não, alí na rua, descaradamente assim? Qu´il n´y avait personne. Tous sont rentré. L´Elephant Blanc fazia congé, nesta noite. Seus fregueses foram beber em outra freguesia o grog reconfortador. Ia voltar a seu quarto. Subiria os sete vãos de escada do 16 rue d´Assas. La concierge botaria os olhos para ver quem estava entrando. Nunca dormem as concierges. Poria um disco na vitrola. Aquela que lhe presenteara a amante, dedicada esposa do italiano. Lembraria o dia em que a conhecera ao comprar-lhe amendoim na avenida Saint Michel. Est-ce que vous jouez de la guitarre? Por acaso tocava, sim, violão. Claro, dar-lhe aulas de violão. Talvez não tocasse tão bem, não fosse capaz de tocar- lhe o concerto de Aranjuez. Saberia, planger as primeiras notas.
Sim, subiria ao seu quarto. Tomaria um copo de porto. Esquentar o frio. Deitar-se-ia ouvindo tranquilamente Mozart. O Divertimento em ré maior, K334 do poeta que em l779 na velha Salzburg, num rasgo de inspiração compôs para o deleite da posteridade. Era cedo. O leiteiro inda não passou. Dormiria um pouco e voltaria à rua. Buscar sua cota de leite na mercearia. Não era um ladrão. Fazia sua redistribuição da riqueza. Os francêses entregam o leite nas padarias e mercearias na madrugada. Como nas residências, deixavam os pacotes empilhados em frente à porta. Pegava sua parte todas noites. Era preciso comer. Em seu quarto lhe esperavam a baguete e a manteiga esta surrupiada no marché a cotê. Não tremer como lhe dizia seu amigo Luiz. Se tremer o francês vê, como quase viu no dia em roubaram chocate no mercado. Ser firme. E viverás. Ser Firme e viverás... El Carmo:
Fazia um friozinho e chuviscava. Ele parara em frente ao Eléphant Blanc para esperar passar a chuva. Eram, talvez, duas horas, ou menos. Outras pessoas ali se encontravam e esperavam silenciosas a chuva passar. Um homem baixo, de careca luzidia, meio desdentado e roupas modestas parou em sua frente e de costas e comentou sobre o tempo. O tempo é tema das pessoas que querem iniciar uma conversa e não tem nada para dizer. Mecanicamente respondera àquele homem convicto de que conversas passageiras não eram propicias para se fazer amigos e amigos era o que lhe interessava fazer, pois sabia das dificuldades em fazer amigos na França e mais ainda o quanto era difícil conserva- los. Como ser amigo de um clochard, de uma pessoa que não tinha morada e não se sabia onde procurá-lo nas dificuldades? Não. Não era um clochard. E se fosse, iria precisar de um clochard? Sim. Bateu um papo. Era difícil encontrar alguém para papear. Sua vida transcorria em monólogos. Monólogos que saiam em sons. Para que abrir a boca? Não havia ouvidos. O velho percebeu o estrangeiro. Talvez, também ele estrangeiro em sua terra. Não. Não era um árabe. Il n´etait pas un pied- noir. Non, il n´etait pas un mexicain, non plus. Il s´agit d´un brésilien. Du Brésil. Le carnaval de Rio. Disse ser do sul e talvez entendesse um pouco de português porque sabia algumas palavras do provençal, la langue d´oc. Orgulho nos olhos ridentes. Alguma semelhança entre o português e o provençal? Existe ainda falantes desta língua? Dela sei apenas que tal qual o francês e o piemontês o u se pronuncia abrindo-se a boca para dizer u e ao contrário dizer i, saindo um som semelhante ao ü alemão. Acabo de aprender que bouche se diz boca como em português, une boca, ou bouco, uno bouco; Que nuit se escreve nuet, noite, e se pronuncia nué; dia não é jour mas jorn e se pronuncia dzur, pois o j e g se pronuncia dz; Ch se diz ts; Paraxítonas las palabras finitas em un. a e,o, as, es, os. Saberá que Gabriel Mistral escrevendo em prouvençau tornou respeitada a língua occitana. E lerá um dia esta súplica dirigida ao rei René em 1474:
Tres soveyran et tres haut prince, A la vostra sacrada real majestat, humilment et devota si expausa, per la part del senhor de Cucuron et de sos homes del dich luoc, que a lur noticia es vengut que ung jort de la semana passada alcun appellat Nicolau de V..., mestre dostal del magnific monsenhor de Saut, ambe un notari del dich senhor de Saut appellat Gastinel, per comandament (coma dizian) del dich senhor de Saut, son vengus en terra de Cucuron en un luoc appellat Gotorras, que solia estre una bastida (...).
Uma rajada de vento e água. O velho recuou tocando-o. No sexo. Entendeu tudo. Não era isto que estava procurando. Tinha estado em alguns bares. Bebera. Não lhe olhavam as loiras nem as morenas. Em vão. Tímido para a abordagem. Sòzinho mais difícil a conquista. Não era um pédé. Não. Ele não disse isto. Queria apenas sucer sa bite. Não, alí na rua, descaradamente assim? Qu´il n´y avait personne. Tous sont rentré. L´Elephant Blanc fazia congé, nesta noite. Seus fregueses foram beber em outra freguesia o grog reconfortador. Ia voltar a seu quarto. Subiria os sete vãos de escada do 16 rue d´Assas. La concierge botaria os olhos para ver quem estava entrando. Nunca dormem as concierges. Poria um disco na vitrola. Aquela que lhe presenteara a amante, dedicada esposa do italiano. Lembraria o dia em que a conhecera ao comprar-lhe amendoim na avenida Saint Michel. Est-ce que vous jouez de la guitarre? Por acaso tocava, sim, violão. Claro, dar-lhe aulas de violão. Talvez não tocasse tão bem, não fosse capaz de tocar- lhe o concerto de Aranjuez. Saberia, planger as primeiras notas.
Sim, subiria ao seu quarto. Tomaria um copo de porto. Esquentar o frio. Deitar-se-ia ouvindo tranquilamente Mozart. O Divertimento em ré maior, K334 do poeta que em l779 na velha Salzburg, num rasgo de inspiração compôs para o deleite da posteridade. Era cedo. O leiteiro inda não passou. Dormiria um pouco e voltaria à rua. Buscar sua cota de leite na mercearia. Não era um ladrão. Fazia sua redistribuição da riqueza. Os francêses entregam o leite nas padarias e mercearias na madrugada. Como nas residências, deixavam os pacotes empilhados em frente à porta. Pegava sua parte todas noites. Era preciso comer. Em seu quarto lhe esperavam a baguete e a manteiga esta surrupiada no marché a cotê. Não tremer como lhe dizia seu amigo Luiz. Se tremer o francês vê, como quase viu no dia em roubaram chocate no mercado. Ser firme. E viverás. Ser Firme e viverás... El Carmo |
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